Bebê a bordo I

Não me lembro exatamente quantas vezes eu o vi, mas certamente não foi menos que três. A primeira vez que ele entrou pela porta de traz do ônibus com aquele bebê nos braços fiquei curiosa, rapidamente se postou próximo ao cobrador, tirou a chupeta e mostrou com naturalidade o corte no lábio da criança. Seu “filho” havia nascido com lábio leporino, (http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%A1bio_leporino) uma fenda entre o lábio e o nariz que deforma a feição e deixa a gengiva à mostra. Segundo o pai, já havia procurado o serviço público de saúde, mas não obtivera sucesso. O caso poderia ser resolvido com uma cirurgia, mas segundo ele, era muito cara.

Ele não deixava claro para que queria o dinheiro, se era para sustentar a criança, ou para a tal cirurgia, só sei que carregava aquele bebê como um troféu, e sempre, antes de descer do ônibus fazia diversas brincadeiras com ela, que insistia em manter a chupeta na boca.

Muitas pessoas faziam comentários indignados, alguns falavam que quando entravam com criança era apelação e não iriam ajudar. Eu ajudei a primeira vez, mas depois comecei a analisar melhor, pois o vi muitas outras vezes, sempre com a mesma história e com o bebê a tiracolo.

Um tempo depois conheci uma pessoa que me contou que tivera uma filha que nascera com esse problema, e que o SUS bancara todas as despesas para a cirurgia, inclusive o pagamento da passagem para Baurú no interior de São Paulo, em um hospital especializado no assunto, http://www.centrinho.usp.br/.

Desde então, nunca mais o vi nos ônibus, mas gostaria, pois iria abordá-lo e indicar tal hospital, confiante de que o tratamento do filho era o verdadeiro objetivo dele.

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