"De volta para minha terra"

Em mais uma das minhas andanças pelos ônibus da grande São Paulo, ainda muito cedo, pois entro às 6h no trabalho, entra um homem pela porta da frente, e ali mesmo, sem atravessar a catraca começa a desenrolar sua história. Pediu desculpas, pois nunca havia feito aquilo antes, mas a situação era muito delicada. Chegou em São Paulo alguns dias antes para um teste em uma companhia de ônibus, mas infelizmente não passou, sem conhecer a cidade, acabou gastando todo o pouco dinheiro que havia trazido. Buscou auxílio de autoridades para conseguir voltar para casa, mas não obteve sucesso. Um fiscal, do Terminal Parque Dom Pedro II, onde pegara aquele ônibus havia lhe instruído a pedir ajuda dentro dos ônibus.

Ele, muito simples, sempre preocupado com as palavras, dizia que era do interior e não tinha muita instrução, chegou a tirar os documentos do bolso da camisa xadrez dizendo que se alguém quisesse ver, estaria disponível, se abaixou meio torto para passar por debaixo da catraca, mas o cobrador pediu para o motorista parar e o deixou entrar pela porta de trás. Muitas pessoas se comoveram e o ajudaram como podia, lembro que dei R$ 2,00, e ele desceu agradecendo.

Um mês depois, no mesmo terminal, ainda sonolenta, eis que me surpreendo com aquela mesma figurinha, antes da catraca, contando a mesma triste história. Todo o sono que estava foi embora e fiquei indignada e decepcionada. Posso estar enganada, mas acho muito difícil que em um mês ele não tenha conseguido juntar os R$ 70 da passagem para voltar para sua casa. Quando passou por mim o olhei com cara fechada e senti uma vontade enorme de dizer: “Olha, você de novo?! Nossa você ainda não conseguiu voltar para sua casa?!” É como já disse antes, ajo sempre com boa intenção, só não sei se quem recebe minha ajuda, também age assim.

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